terça-feira, julho 02, 2002

Ela continua lá, animal altivo e imóvel olhando para cima. Só nuvens. Ela já entendeu, mas finge que não. Elas não irão embora. O vento não virá e não abrirá as nuvens, não abrirá nada. Fecharam-se feito conchas.

Só se abre uma concha
à força matando a ostra,
Deus me livre.
Deus me livre de violar você,
meu amor.


Ela pensa. Dói. Se ao menos pudesse tocar as nuvens, movê-las. A lua está ali logo atrás delas, tão perto. Quer gritar. Só os machos uivam para a lua, por isso têm tanta força na voz. Só os machos caçam, por isso têm tanta coragem e medo. O halo de luz está lá visível através da concha, digo, das nuvens. E estará lá ainda, mesmo que as nuvens se adensem muito, mesmo que a tempestade venha, mesmo que ela não sobreviva. Sobreviverá, é certo. Falta pouco para amanhecer.

Amanhecendo a lua aparece
do outro lado do mundo.
As nuvens não vão junto.
Felizes aquelas que estão lá.
Podem tentar, ao menos.


Quando o sol chegar ele também estará oculto, e fará frio. Ela não morrerá de frio. Ficará quietinha e esperará. De noite tem a lua de novo. Talvez com menos nuvens agora.

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