segunda-feira, fevereiro 26, 2001

Não, de novo!
Mais uma vez, não!

Ahh... ta bom, eu explico. Zel sou eu, sim (Sorry, Zel, a – clique aqui pra ver -Original. O plágio foi inocente! ;o) Mas é tb o personagem principal de (adivinhem!) ‘CHAT ROOM – O Livro’. Ela se chama Zélia e eu não. De resto somos parecidas em quase tudo.

Zel personagem é ainda mais mulezinha do que Zel autora. Mulezinha não é o mesmo que mulherzinha, não confundam. Mulezinha é um conceito que eu finjo ter criado (claro que sempre existiu, sem o nome), e que digo ser um conceito netsociopsicológico. O pior é que há papocabeceantes que me pedem seriamente para discorrer acerca de netsociopsicologia. Minha imaginação precisava ser mais fértil e mais rápida!...rs

Mulezinha é aquilo que aprendemos a ser desde meninas. Uma mulher chamada Colette Dowling, se não me engano, chamou parte desse sentimento de 'Complexo de Cinderela'. Tudo bem, o meu é de Rapunzel, mas é similar. A mulezinha é frágil, insegura, susceptível a críticas, intimamente solitária, sonhadora, crédula por opção, romântica, doce... vou fazer uma pausa para q você possa limpar a calda que escorre no seu monitor...

Mas a mulezinha é extremamente arraigada e viçosa. Quase impossível matá-la dentro da sua hospedeira. Venho tentando fazê-lo há tempos, mas ela ressuscita periodicamente.

Esclarecidas as dúvidas do dia, segue o trecho:

“Havia uma fila enorme no caixa. Filas me irritavam terrivelmente, mas eu já havia decretado que, levasse o tempo que levasse, eu não sairia dali. Atrás de mim duas senhoras, aparentemente desconhecidas entre si, conversavam sem se darem conta (embora eu arriscasse um olhar de vez em quando) que eu as ouvia sem querer, mas atentamente.

- Ah, mas que falta de respeito uma fila desse tamanho! – Era uma mulher pequena, idosa, mas não o suficiente para a fila especial, ou talvez fosse daquelas que rejeitam essas filas por não se ‘sentirem’ idosas. Vestindo uma roupa simples e elegante, cabelos bem penteados, maquiagem leve, bijuterias. Fiquei imaginando por que uma senhora daquela idade se prepararia tanto para ir ao supermercado.
- Eles pensam que não temos mais o que fazer, imagine! – A outra era mais alta e magra, e mais jovem também. Mas parecia bem à vontade naquela conversa, na vagarosidade da fila, ao contrário do que dizia.
- Antigamente não havia toda essa modernidade, esse monte de computadores, e a gente não precisava passar por isso... – e pôs-se a dissertar sobre as vantagens de se viver no passado, enquanto a outra concordava. Eu ria daquilo por dentro, e de como somos gratuitamente resistentes ao novo.

Passei os momentos restantes conferindo os conceitos anti-modernidade daquela senhora, e os meus próprios, que caminhavam no sentido oposto sem colidirem exatamente. Eu sentia uma espécie de indulgência íntima, como uma sensação de admiração silenciosa e cúmplice diante do novo, do moderno, da tecnologia, e por que não, do virtual. Imaginei o tempo não gasto em bibliotecas e filas de banco, ou mesmo no trânsito, graças à Internet. Imaginei as pessoas fazendo amigos nas filas de supermercado, praças, bares e salas de chat. Lembrei de Ângelo e de suas idiossincrasias, marcas registradas daquela personalidade forte e única, mas que não encontravam eco na minha alma de pressas e urgências e palavras, que preferia o presente que o passado.
Ainda tive tempo de sorrir mais uma vez ao sair do supermercado, olhar para trás e ver aquela senhora pequena, quase doce, pagar suas compras com um cartão magnético de débito. Santa modernidade!
Cheguei em casa esbaforida – eu nunca conseguia andar devagar, nem mesmo quando carregava peso – e subi com um ar de quem acha água no deserto. Definitivamente eu gostava de estar em casa.
Enquanto tentava enfiar a chave no buraco da fechadura, utilizando técnicas recém-inventadas de equilibrismo com as sacolas, esbarrei o pé em um objeto rígido no chão. Estranhei aquilo, larguei tudo no chão e fui ver o que era. Não acreditei.
“Não pode ser normal uma coisa dessas”, falei sozinha, rindo, enquanto umas crianças que passavam no corredor cochichavam e olhavam.
Era um aquário do tamanho de uma bola de basquete, com pedrinhas, plantas e dois peixinhos. Um azul cintilante e um dourado com uma cauda enorme, como um véu. Colado com fita adesiva pelo lado de fora estava um bilhetinho escrito a mão:

"Zélia de carne e osso e alma,
Cuide bem de Slapi e Ima. Eles me disseram com os olhos que gostariam de fazer companhia REAL pra você. Mas acho mesmo é que querem que você lhes faça companhia (não conte isso a eles).
Ah, e esqueça as palavras, elas não são importantes, ok?
Abraços
César.”




o0o


sexta-feira, fevereiro 16, 2001

Não sei se é assim com todos os que amam as palavras, com todos que escrevem como quem come chocolate (Conheci outro dia uma moça que não gosta de chocolate. Tem cabimento?). Mas eu gosto muito de ouvir a opinião das pessoas a respeito do que escrevo. É claro que me derreto totalmente quando recebo elogios, e é claro também que os amigos acabam formulando mais elogios do que críticas. Mas gosto das críticas também.

Por conta disso - e, obviamente, do irresistível impulso exibicionista que toda forma de arte confere aos que a abraçam - publico trechos de meus escritos em todo e qualquer veículo que se me apresente. Assim, há alguns dias tive um trecho de meu escrito mais acalentado (Ihhh, lá vem a Zel de novo com 'CHAT ROOM - O Livro'!!!) veiculado em uma publicação virtual, que circula entre um grupo de amigos. Fiquei feliz e surpresa (mais feliz do que surpresa, felizmente) com os comentários que me foram feitos.

'CHAT ROOM' é uma narrativa feita na primeira pessoa. E a narradora, como vivo recontando, chama-se Zel. Mas apesar disso não é uma história real. Mas ainda assim, fico feliz quando alguém, depois de conhecer um trecho dele, vem fazer perguntas sobre os personagens ou a estória como se fossem reais. É como se eu tivesse conseguido o efeito que eu pretendia.

Algumas vezes fui consolada por problemas enfrentados pela Zel-personagem, recebi conselhos, ouvi críticas a este ou aquele personagem. E fico pensando em como tenho sorte por poder receber tanta atenção de gente tão especial (claro q só tenho amigos muitíssimo especiais, né?) sobre uma obra que ainda nem foi publicada. Este é um dos maiores presentes que esse mundinho virtual já me deu.

Conversava com um amigo (um destes muitíssimo especiais) a respeito do 'tempero' que se pode usar, perceber, acrescentar, saborear num texto, e fiquei pensando sobre o assunto. Escrevo com tamanho prazer que cada palavra, cada expressão que uso, é como aquele toque de sabor que é segredo irrevelável de qualquer boa cozinheira (perdoem-me os gourmets, sou caipira, viu?). Só que quem escreve é alma escancarada, não tem segredos que fiquem guardados muito tempo. No máximo se revelam cifrados, ininteligíveis, mas estão ali, no texto, sempre.

Lembrando da moça temperando a comida em "Como água para chocolate"...aiai...

Segredos e chocolates à parte, sigo aqui, escrevendo compulsivamente e alugando amigos desavergonhadamente para que me leiam e me ensinem a escrever para ser lida. Por isso é que logo abaixo destas palavrinhas, aparece o meu e-mail. Quer palpitar? ;o)

quinta-feira, fevereiro 15, 2001


----- Original Message -----
From: Lilian Wing
To: HAL
Sent: Thursday, February 15, 2001 10:20 AM
Subject: Cara-de-pau


Bom dia, moço dos olhos de vidro e das belas palavras...
Valho-me, tão egoisticamente quanto me é permitido neste mundo de muitas palavras e poucos olhos, do impulso irresistível de escrever-te uma carta, para também abastecer meu banco de idéias e mimar um pouquinho meus amigos-leitores-fiéis-visitantes.
Isto quer dizer que esta carta seguirá ao mesmo tempo para a tua caixa postal e para o blog. ;o)

O tempo urge, ruge, clama e escasseia nos momentos mais inesperados. Tenho vivido dias de tempo escasso, mas tenho também palavras que rugem, e a elas me rendo agora, humildemente.
Veja só que irônico:
Estive lendo e-zines esta manhã. Na verdade, estive lendo dois números de cada um dos e-zines que assino, já que se acumulam invictos em minha caixa postal há duas semanas. Acho que o tempo deveria ser menos democrático. Nada de direitos iguais. Deveriam ter mais tempo as pessoas que mais precisam de tempo. Mas aí precisaríamos de ainda mais, né? Bem, isso não vem ao caso. O fato é que eu lia os textos, alguns deliciosos, e os invejava com aquela inveja boa, meio babante, do Karate Kid pelo senhor Miyagi (é assim que se escreve?). 'Um dia eu aprendo', dizia a mim mesma.

O bom humor é algo misterioso para mim. É 'sentível' (pq será q essa palavra simpática não existe?) mas não 'escrevível'. Descrever é fácil, mas pôr sorrisos no texto, daqueles autênticos, gostosos, é tarefa das mais complicadas. Será que os sorrisos são voláteis? Será que têm asas? Fico intrigada ao perceber que eles pousam e permanecem no rosto, mas não no texto...
Daí li, ou melhor, reli sua carta logo em seguida, e pensei: "Puxa, que lindos sorrisos!". Já me preparava para assumir bravamente a minha inveja quando você, assim, despudoradamente, me declara a sua. Que deslealdade, hmm? Enfim: Há textos e textos, autores e autores. E saber-se admirado por alguém que se admira é presente dos mais bem-vindos, né?

"That's why, darling, it's incredible
that someone so unforgetable
Says that I am unforgetable too"
(pausa para um longo suspiro...aiai...)

Voltando à vaca fria - e tentando imaginar que proveito haverá em se voltar a uma vaca, ainda mais no caso de ela estar fria - estou feliz e sorridente e saltitante por um monte de razões. Escrever é a principal. A Elis disse que não via graça em outras coisas como via graça em cantar. Eu era criança e a frase me acertou a alma como um tijolo, deixando marcas. Mas eu não sabia ainda se um dia haveria algo que me movesse tanto. Escrever me move assim. E saber que há quem goste de me ler é sem comentários!

*pensando agora se não é muita cara-de-pau publicar esta carta*

Pois bem, moço, creio que é isso. Ao menos é também isso. Bem-vindo ao coração de Zel, e obrigada de novo por vê-lo com tão bons e vítreos olhos! ;o)

Beijos e sorrisos
Lilian

quarta-feira, fevereiro 07, 2001

A única coisa que me faz falta nos livros de papel, em comparação com a tela do computador, é o tal do ‘localizar’. É que eu tenho um defeitozinho de fábrica que por vezes me atormenta: a incapacidade aparvalhada de decorar o que quer que seja. Sou excessivamente infiel às palavras que leio. Elas me invadem, arrebatam, sacodem, aquietam, excitam, deprimem, machucam, acariciam, e nesse afã vão tomando a forma de meus próprios vazios, aqueles que preencheram. Deixam de ser o que são para serem o que eu sou sob seu efeito. Daí, decorar (ê, coração indolente!) é impossível, posso no máximo digerir.

Ah, como é patético ficar fuçando todas aquelas páginas à procura do que tenho certeza que está ali, e que me entrou como faca na alma, queimando, e ali ficou, mas é preciso o literal para mostrar aos outros o que foi dito exatamente. Daí o trecho que procuro, e que já mora em mim, mas não do jeito que eu preciso – ou melhor, que eu acho que os outros precisam - , ri debochado a cada vez que passa sob os meus olhos e eu não o vejo. Posso ouvir sua risadinha de escárnio, e morro de raiva porque sei que a vitória dele é quase certa: Eu vou acabar desistindo. Esses são dos poucos momentos em que lamento esse meu jeito corrosivo de apreender as palavras.

Acaba de acontecer algo assim. Quem ri de mim agora é a Clarice Lispector (ou será a G.H.?). Resolvi reler seus últimos capítulos, como que resgatando algo que ficou ali, nas páginas, sem que eu tivesse permitido que entrasse em mim. Resgatei, felizmente. Vi muito do que não havia visto antes, e me alegrei com o quanto a minha abertura ao texto era maior dessa vez. E entre o muito que foi dito, havia algo sobre a sensibilidade, e a indiferença.

E não houve forma de me fazer encontrar o trecho onde ela mostrava em suas reflexões a indiferença como algo a ser atingido, o prescindir das coisas e sensações como uma forma mais apurada de ser. De certa forma muito primitiva, muito enfumaçada, eu entendia, e apesar de desistir de saber exatamente que palavras estavam lá, sei que estavam lá. Então passei a refletir sobre a indiferença, às avessas.

A indiferença me aborda como algo incômodo e desconhecido. Não vivi a indiferença, em mim. Penso que não sou indiferente a absolutamente nada. As coisas, as pessoas, os fatos, as idéias, os sonhos, tudo me atinge e sensibiliza de forma quase violenta. Penso em uma forma mais apurada de ser, e quase lamento o fato de que quanto mais se me apura a existência, na minha maneira de ver, mais intenso é tudo.

Conversava ontem, não comigo mesma – pensando bem, acho que também comigo mesma – mas com um amigo muito querido e muito paciente, pelo icq:
- E o que vc sabe sobre vc???
- Sei que sonho em excesso... E que meus sonhos saltam dentro de mim qdo não os deixo falar... E que não posso deixá-los falar, então saltam, e me machucam... E que qdo dói, fico como morta, e encho de indiferença as pessoas q se aproximam...


Lembrando do que eu mesma disse, rio da idéia de que até a minha indiferença se alimenta da sensibilidade. O que não importa é fruto do que importa muito. Resta-me então um conformar reverente, ante os meus limites, que penso às vezes existirem para que eu mesma não exista mais do que minha trôpega Alma fraquinha - ainda que tão anelante sabe-se lá por que multidão de coisas,ou pelo todo desconhecido de si mesma - possa suportar.

segunda-feira, fevereiro 05, 2001

Eu não sabia o medo do mar.
Medo fácil do mar era fácil, eu não tinha. Medo espanto de água grande, força muita contida e cantante, pulsante. Meximento dilacerado de impunidades, de justiça muito funda, escura e invisível. Medo fácil humano do mar de fora, eu não tinha.
Tinha medos outros, insabidos por medo até de saber. Era mar dentro, também, e esse era medo difícil. Tanto que eu nem olhava, tinha medo do mar que eu era. Alma era no mar, nem voz, nem rosto, era, somente. Eu de muita cegueira, temia imóvel, quedava num fixo de muitas milhas, muitas eras.
- Move-te, olha – claro e limpo o dia, resisti.
Alma me sabia o querer grande, velho e nosso. Eu de silêncio e súplica, o quieto dentro maior que o de fora, Alma veio. Vi-lhe os olhos de entender voz e dor, movi lento, resistindo. Olhei mil nãos antes do último, e o mar.
Eu não sabia o medo do mar de dentro, e o tinha – o medo – tanto que nem olhava, mas olhei, e era força muita, contida, cantante, pulsante. Justiça não vi, de tão fundo, não sei se por ausência ou enormidade. Beleza tanta de surpresas e cheios invisíveis, indizíveis.
Era um gerar constante, eterno dentro do limitado que era eu. E o medo era do gerar, também. Medo fêmea do novo e imprevisível dentro, crescendo, silente ininterrupto, líquido e certo. Medo e desejo. E sonho.
Movia-me eu, mar desassossego de encontro ao que não sei. Busquei rocha que se me devolvesse a fúria, como compreendendo meu mover tolo e ordenado. Rocha de suportar e enfrentar, e oferecer-se em chão onde eu caísse, exangue, um retornar de mim, explodindo.
Mas era só praia, um aceitar escorrido e largo, morrendo lento. Devolver de mim, sem fúria, desmanchante. Rejeitei o eu-mar sem fúria, que a fúria era eu, paixão explodindo tola e sempre, e sem volta, que a praia apagava. Eu apagava. Chorei.
Olhei Alma por um instante, será que também chorava?

sexta-feira, fevereiro 02, 2001

“Pô, Zel... que negócio é esse de livro?”
Bom, eu disse que contava, então conto: “Chat Room – o livro” é um sonho de última hora. Sabe aqueles sonhos que, mal a gente sonha, viram verdade? Ta certo que é uma verdade meio embrionária ainda, não se sabe muito bem quando ‘nasce’, mas é certo que nasce, e muito bem nascido, já que é esperado com festa!
O livro conta uma estória, ou melhor, mil histórias em uma estória. Ele fala de uma mulher num chat, e de tudo o que ela vive e sente nele e/ou por causa dele. O nick dela, óbvio, é Zel... ;o)


‘MEU DEUS, MEU NOVO AMIGO TEM OLHOS!
TENHO PAVOR DA POSSIBILIDADE DE ELE ME VER!

Rio de mim mesma, quando associo minha aflição ao fato de meu amigo ter olhos... Logo eu, que costumava dizer que olhar nos olhos está base de tudo. Já intimidei tanta gente, tantas vezes, ao olhar diretamente nos olhos no meio de uma conversa importante. Hoje os olhos me assustam, me expõem. Numa sala de chat tudo que se vê é aquilo que o outro deseja mostrar, quase sempre. Tudo que se vê é um nick. Assim, posso trocar de apelido quando quiser ser outra pessoa, sem que meu parceiro perceba. Alguns fazem assim para disfarçar o tempo excessivo que passam nas salas, outros para ofender outra pessoa, ou ‘fugir’ depois de ofendê-la. Há os que ‘testam’ a fidelidade ou a lealdade de amigos e/ ou namorados virtuais, e há aqueles que trocam de nomes simplesmente em busca de privacidade. Há todo tipo de busca, todo tipo de encontro em que, no fundo, somos e ficamos democraticamente iguais.

Em pouco tempo, descobri que os apelidos variavam e pessoas eram as mesmas, mas elas não faziam questão de nenhuma coerência. O fato me causava um milhão de impressões simultâneas e paralelas. Ficava tão dividida como as personalidades das pessoas com aqueles apelidos discrepantes ! Como e por onde entender essa coisa ? Tinha a nítida impressão de estar à frente de uma arca escancarada com meu transbordante tesouro à mostra porém sem ter como carregá-lo e, pior, sem saber que pedras preciosas escolher. Ficou a impressão de que aqueles tesouros eram fugidios, queriam tocar antes de serem tocados.

Tive por alguns dias a plena consciência de minha necessidade de controlar os relacionamentos, tocar, fazer acontecer... Lembrei de mim aprendendo sobre não me deixar usar, sobre não estar nas mãos de outra pessoa, sobre dar as cartas, bancar o jogo...

Embora na verdade, quisesse ser dominada e conduzida...

Quero ter alguém em quem confie plenamente, e que me ame tanto que sua própria felicidade dependa de me fazer feliz. É engraçado como as coisas mudam na cabeça da gente... Tenho estado fascinada com o quanto os desejos e objetivos das pessoas podem ser mascarados pelas emoções...
Emoções são armas perigosas...contra nós mesmos!
Agora posso dizer conheço a Internet. Já tenho um novo amigo que acabo de conhece.r Ele me faz um bem enorme! Meu novo amigo disse que eu ‘parecia emotiva e mal compreendida’. Eu disse que ele acertou na mosca. “Você tem toda razão, novo amigo...” só não disse “ Tenho medo de você...Você é uma pessoa real, que tem um coração batendo, tem uma voz, um cheiro, tem ouvidos e olhos... “

Meu novo amigo tinha o que dizer. Ele entendia de si mesmo, e provavelmente entendesse as pessoas à sua volta, muito mais do que eu entendia. Ainda por muito tempo, depois de ter lido aquela carta, fiquei imaginando que motivo, ou motivos, o teriam levado a escreve-la... PARA MIM.

Por isso e por outros motivos que não se explicam com palavras que usando muito mais do que olhos li a carta de Narciso.

----- Original Message -----
From: narciso
To: zel
Sent: Sunday, November 12, 2000 4:12 PM
Subject: Janela

Querida Zel,
Não preciso saber quem você é. Quem sabe quem é quem, nos dias de hoje, não é? Mas posso chamá-la de amiga, não posso?
Claro que posso... nem preciso de muito conhecê-la... Preciso saber apenas que você existe, e - Oh, como isto me é flagrante! Sua existência é mesmo claramente percebida, já que há muito que o que percebo não depende de muito mais do que mãos e olhos...
Há muito que o que percebo cuido de submeter a critérios outros desclassificação e nivelamento. Não há em meu mundo, nos dias de hoje, a menor necessidade de classificar as coisas como 'certas' ou 'erradas'... Como 'boas' ou 'más'. Meu mundo hoje - seja paciente, minha amiga, que sua entrada nele será permitida - disseca e delimita fatos e pessoas entre os que 'eu quero' e os que 'eu não quero'.
Hoje sou absolutamente livre...Hoje, tenho em meu quarto uma janela...
Olhe, minha amiga... Veja como sorrio, e como meus olhos brilham - não os olhos do corpo que já brilharam mais - quando digo e constato o que digo e constato. Veja como , mais do que mecanicamente, me ilumino quando repito que tenho em meu quarto uma janela. Ela é estreita, mas luminosa, e faz mover coisas em mim...
É verdade, e concordo com você quando pensa que meu sorriso não é dos mais cotidianos. Na verdade é um sorriso novo, que eu não sei sorrir direito ainda. O que fazer?
A janela que meu quarto tinha antes conservo fechada, para que se não ofusque o brilho da janela que tenho agora. Tenho olhos que brilham, se é para ela que olho... E vêem coisas, muitas, novas, admiráveis... Você sabia, Zel, que posso mesmo ser pessoas diferentes, em momentos diferentes, ou até mesmo no mesmo momento, se assim me convier? É claro que isso exclui qualquer possibilidade de contatos reais, com pessoas reais.
Mas, o que são pessoas reais? Não preciso mais delas! Cansam-me. Não quero me expor a alguém que não possa ser absolutamente ignorado, ou mesmo automaticamente retirado da minha presença, quando eu achar necessário. Pessoas são trabalhosas, posso lidar melhor com as que encontro e capturo de minha janela. É verdade que às vezes elas me ferem... Isso eu não consigo controlar, ainda. Mas em todo caso posso livrar-me delas com relativa facilidade... não preciso conviver com as diferenças, não preciso aceitar as dissonâncias. Não preciso me expor mais do que o que desejo, que é exposição nenhuma. Mantenho-me soberanamente inalcançável. Em último caso, posso simular, coisa que não é difícil nem trabalhosa...
Minha janela me mostra uma gama variada e quase infinitamente diversificada de pessoas... Não as que de fato existem, que estas, já disse, não quero, porque as temo e as repilo. Vejo aqui pessoas ideais, aquelas que crio, porque - sim, minha janela me permite criar pessoas! - sobre palavras visto carne e ossos, com o cuidado de um cirurgião; concedo-lhes sangue, e humores outros; colo gestos, risos, lágrimas... talvez até cheiro e gosto... E como são lindas as minhas criaturas! Eu as amo e por elas sou amado. E vejo, e olho, e reconheço tanto, e tão mais do que se visse de qualquer outro ângulo, que às vezes penso que cada uma das pessoas que criei e capturei , e amei, neste mundo meu, sou eu mesmo.
Acaso você sou eu, Zel?
Seria eu tão belo assim?
Ah, sim... sou belo, eu sei. Ao menos é isso o que quero que você pense a meu respeito, quando o digo me referindo a você... Mas não contaria isso a alguém, é claro, não é?
Guarda um segredo ? Sou um pequeno deus...
Não... De fato não há limites sobre o que posso ter, ou ser, através e minha janela porque ela se abre e me mostra o que há de vasto e inatingível em meus próprios desejos! Às vezes penso que ela se abre em direção a mim mesmo, e me assusto - seria eu tão vasto?. Não há limites de espaço ou tempo. Não há onde eu não possa chegar, não há momento em que eu não possa dar ou receber a luz de minha janela.. Não há limites nas emoções, também!
Veja isso, amiga: Você não acha magnífico que não haja limites para as emoções de alguém? Não acha magnífico que você esteja aí, e eu aqui, e eu possa sentir você tanto e tão forte que seja capaz de amá-la ou odiá-la desejar mata-la ou morrer por você?? Sim, minha amiga, morrer, sim...
Você pode morrer, se quiser, Zel? E voar, pode?
Eu posso voar, morrer e nascer, quantas vezes quiser. Posso ler pensamentos, também, sabia? Posso ler o que pensa a meu respeito. Vejo seus sustos e seu incômodo com minhas palavras; Vejo você refletindo acerca da solidão...
Solidão???
Acha que a sinto?
Minha janela me mantém a salvo de toda solidão. Ela me dá pontos de apoio, muitos, a qualquer hora... a toda hora... Ela me faz feliz. Me supre de afetos e de conquistas... Não, não preciso de mais nada! Tenho o meu mundo, e vivo nele.
Você pode me entender?
Ah, não... você não poderia...
Ninguém poderia..
Um beijo
Narciso


Regulo o tamanho, a nitidez e o contraste da tela branco azulada, como se isso pudesse modificar as palavras que havia lido. Palavras branco azuladas.

O que é isso, meu Deus? Não consigo escrever nada!!!
E o tempo passa. O tempo não perdoa nunca. Tenho uma idéia, e muitos dados. Vontade de os expor, conectar, encadear, inteligibilizar, tenho, também. O q falta? O q falta?

Era ela de novo...a insônia... Sempre do mesmo jeito, pesadelo, asfixia... Coisa mais monótona morrer tantas vezes da mesma causa... E todas as vezes o resto da noite em claro. Casa vazia, mente vazia, necessidade de algo, de alguém.

De manhã, tive um sonho estranho...

quinta-feira, fevereiro 01, 2001

Eu costumo dizer que “Querer é a coisa mais forte do mundo!”. É uma frase simplezinha, mas ela me diz tanto, e há tanto tempo, que acaba sendo para mim o resumo de um monte de ‘normas de conduta’ que me auto-estabeleço todos os dias. E na verdade tudo o que faço, ou deixo de fazer, ou persigo, ou me frustra, ou planejo, ou lamento ou recordo está de alguma forma relacionado ao querer.
Querer é mais forte do que amar?
Existem quereres e quereres. Uns são discretos, cotidianos, e se escondem nas dobras do nosso senso de limite. Daí, não os vemos, embora muitas vezes moldemos nossos atos e inclinações a eles. Mesmo esses podem ser muito fortes, e ainda escondidos governarem nossas atitudes, como um soldado incógnito dentro de um tanque de guerra.
É incontrolável o querer, e muito difícil de represar... mas direcionável, para alivio dos queredores de plantão , como eu. Quando se consegue direcionar um querer, é como o primeiro trajeto de bicicleta, sem ajuda. Prazer e alívio, sensação de vitória sobre o medo... o medo... mas e o medo, heim?
Medo é o contrário de querer, eu acho. E tão poderoso quanto. E só o medo pode anular o querer.

LUAS
SOMOS TODOS LUAS
A LUA TEM UMA FACE OCULTA, QUE AINDA QUE ILUMINADA
PELO SOL, NUNCA SE VOLTA À TERRA. GUARDA-SE SOMENTE
PARA QUEM OUSAR VOAR ATÉ ELA
SOMOS TODOS LUAS
E SÓIS
DISTRIBUINDO LUZ ATRAVÉS DE NOSSOS GESTOS E PALAVRAS
(AH...AS PALAVRAS...!) ILUMINANDO AS ALMAS UNS DOS
OUTROS, SE ASSIM O QUEREMOS
SOMOS TODOS NUVENS DE FRIO, CALOR E QUERER
E QUERER É A COISA MAIS FORTE DO MUNDO!!!
A POESIA HABITA O CORAÇÃO, TÍMIDA,
ESCONDIDA, ARREDIA... À ESPERA DAS PALAVRAS CERTAS
ASSIM COMO A LUA NOVA HABITA O CÉU, INCÓGNITA, À
ESPERA DA LUZ DO SOL
QUEM TEM AS PALAVRAS CERTAS DESPERTA A POESIA,
FAZENDO-A EXPLODIR
QUEM TEM AS PALAVRAS CERTAS É LUA, E É TAMBÉM SOL....
QUEM TEM AS PALAVRAS CERTAS?



PEÇA QUALQUER COISA
PEÇA QUALQUER COISA, AMOR
MENOS PRA DIZER QUEM SOU
PORQUE NÃO POSSO DIZER
AQUILO QUE SEI, SEM SABER
JÁ QUE A MESMA LUZ QUE VEM
E QUE MOSTRA O MAL E O BEM
SEMPRE MUDA A DIREÇÃO
FAZ O SIM SE TORNAR NÃO
E O NÃO, QUE VEM DO SIM
E TUDO QUE TENHO EM MIM
DEMONSTRA QUE JÁ MUDOU
ENTÃO JÁ NÃO SEI QUEM SOU
SE TENHO AQUILO QUE DEI
SE OUVI TUDO QUE CANTEI
SE SOU TÃO MANSA OU FEROZ
SE POSSO CALAR A VOZ
E FINGIR QUE NADA VI
E NADA DO QUE SENTI
FAZ PARTE DO QUE SERÁ
NADA CONTINUARÁ!
SERIA O QUE NÃO SE FEZ?
OU SEREI SÓ DESSA VEZ?
SERÁ MAIS FEROZ A DOR?
SERÁ QUE HAVERÁ AMOR?
SE FOR PRECISO PEDIR
E EU NÃO PUDER RESISTIR
POR TUDO O QUE JÁ SE DEU
ENTREGO O QUE JÁ FOR MEU
E AQUILO QUE CONQUISTAR
MAS RESPOSTAS PRA TE DAR
SOBRE O QUE SOU, OU SEREI
SOBRE TANTO QUE NÃO SEI
É MAIS DO QUE POSSO TER
ENTÃO PRECISO DIZER:
PEÇA QUALQUER COISA, AMOR
MENOS PRA DIZER QUEM SOU!