quarta-feira, setembro 04, 2002

Eram asas, sem dúvida. Asas de anjo? Toda asa grande lhes parecia de anjo. É que não deve haver nada maior do que um anjo, imaginavam. Tinham asas enormes, que viam imóveis.

Serenidade imensa e despropositada assim era ainda mais despropositada quando rugiam feito leões. Talvez algum dia um anjo tenha desejado ser leão, então rugiu. Era desse jeito que se entendiam.

Faces humanas, e tinham olhos também. Serenidade. Ainda que fossem capazes de se desesperar, seria sereno o desespero, decerto. Eram assim os olhos, e grandes, e claros. E se olhavam na alma com tamanha força que a alma sentia vergonha de ter um corpo.

Interrogativos os olhos, inquisidores de si e dos outros. Belos. Apavorantes no não ter respostas que lhes assolava. Sedutores no querer respostas, e as queriam tanto.

No fundo amavam as perguntas também. E eram tantas que pareciam feitos delas. Elas os alimentavam.

Garras e olhos, rugido e asas, eram como um fim chegando. Talvez demorasse. Era como se ao fim a última resposta os fosse libertar. Seguiriam então destinos únicos. Um-só-em-si. Um-cada-um. Mas agora estavam juntos.

Estavam juntos, inegável. Talvez parados frente a frente, ou caminhando lado a lado. Talvez seguindo... não, ninguém conduzia. Talvez atraindo. O fato é que estavam juntos, e por enquanto era quase claro o que diziam garras e olhos, rugido e asas: "Decifra-me ou te devoro.".

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