domingo, junho 12, 2005

Tantas vezes você passou ou esteve nesta sala, e nunca atentou antes para esta parede? E o quadro nela, também não havia visto? Não, claro que não há como ter certeza de que havia um aqui antes... mas por que não haveria? Não importa, olha: Parede e quadro, reais e inusitados. Perceber coisas pode ser tão difícil e surpreendente às vezes...
Inacabado. Sem moldura, sem todas as cores e tintas que provavelmente se pretendia. Toda forma de arte mostra o sonho de alguém, já te diseram um dia. Será verdade? Caso seja, eis aí um sonho inacabado. Coisa mais fora de propósito. Quem penduraria um quadro sem terminar de pintá-lo antes?
Olha bem, a tela semipintada a óleo, tons de marrom, amarelo, azul, e talvez outras cores dessas que pouca gente sabe o nome. Nenhum vermelho, certamente. Um vaso de flores, ali o vaso, mas as flores ainda como manchas brancas flutuantes. Em torno delas, traços verdes representavam folhas finas e longas, bonitas até, pendendo por sobre a borda do vaso, envolvendo ninguém. Ou melhor, envolvendo pequenos fantasmas do que poderia vir a ser um dia.
Talvez o que você sonha seja assim, incompleto. E então o olhar surpreso e repentinamente atento sobre o que se pretendia imagem, mas não passa de espaço, caricatura, vaso de folhas e fantasmas, acenda em você a santa indignação, impulso de retomar, concluir, arriscar, ou mesmo destruir. Fazer de novo, do zero, mas fazer.
Por isso já não parece absurdo que alguém pendure seus quadros inacabados, os feios, sem moldura, cores ou tintas suficientes. Monumentos mudos, marcos dos dias de silêncio. E da esperança oculta de que se possa, e se queira, retomar tudo o que se pensou esquecido, desistido.
Estou de volta, nem que somente pra mais uma pincelada.
Por um momento fantasmas parecem muito mais interessantes do que flores. :-)

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