sábado, março 21, 2009

Desventuras em série

Era quinta feira na Escola Municipal. Dia de PROVA.
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Os alunos se dirigiram às respectivas salas acompanhados de seus professores, estes portando pilhas de cadernos de prova e duas folhas de instruções ao professor. Uma das instruções se referia ao horário: duas horas a contar do toque da campainha, tempo no qual todos os alunos deveriam permanecer na sala, independente de terem terminado a prova ou não.
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As três últimas páginas da prova continham o questionário sócio-cultural, a ser preenchido pelos alunos após a prova, mas não imediatamente após, pois a folha de instruções ao professor rezava que se haveria de cumprir um intervalo de vinte minutos, durante o qual todas as turmas deveriam se dirigir ao pátio da escola e desfrutar de seu horário livre. Após o intervalo, retornassem às salas a fim de cumprir esta segunda etapa.
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Terminadas as etapas determinadas pela folha de instruções, os professores se dirigiram à sala dos professores, a fim de proceder a correção e registro do desempenho dos alunos. Receberam novas instruções, além de canetas e formulários a serem preenchidos a mão. Sua tarefa era:
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- Corrigir as provas;
- Anotar TODAS as respostas corretas em formulário próprio (NÃO HOUVE CARTÃO RESPOSTA NEM MÁSCARA DE CORREÇÃO);
- Contar as respostas corretas;
- Somar o total de respostas corretas, obtendo a média da turma;
- Somar e totalizar os acertos da turma em cada questão da prova;
- Transcrever para formulário próprio TODAS as respostas do questionário sócio-cultural;
- Somar o total de respostas em cada alternativa de todas as questões;
- Contar separadamente, obtendo número total de acertos e média do desempenho da turma nas questões de Lingua Portuguesa;
- Contar separadamente, obtendo número total de acertos e média do desempenho da turma nas questões de Matemática;
- Entregar todos os formulários, tabelas e folhas de registro ao coordenador pedagógico, a fim de que este procedesse, a partir destes formulários, tabelas e folhas de registro, o preenchimento de outros formulários, tabelas e folhas de registro próprios de seu cargo, expressando o desempenho da escola como um todo, enviando este trabalho ao "órgão central" IMPRETERIVELMENTE até a segunda feira seguinte..
- Não foi utilizado NENHUM COMPUTADOR em nenhuma das tarefas exigidas dos professores, uma vez que todo o registro deveria ser entregue pelos professores escrito a caneta;
- Não foi necessário registrar nenhuma observação de desempenho individual dos alunos;
- Não foi reservado tempo específico para a realização destas tarefas; elas deveriam ser executadas DURANTE (?) ou APÓS o trabalho em sala de aula;
- Não foi permitido o retorno dos cadernos de prova aos alunos e responsáveis, para ao menos desta forma tomarem conhecimento de seu desempenho.


Sabe há quanto tempo essa história REAL aconteceu? 20 anos? 30? 50 anos? Parece, não é?
Isso FOI HÁ DOIS DIAS, durante a "Prova de Revisão" determinada pela Prefeitura do Rio em todas as escolas da Rede Municipal.
Não, não é piada!!! FOI ASSIM MESMO QUE ACONTECEU!
Quer saber se os alunos ficaram duas horas em sala? NÃO!!! Eles não aguentaram o calor e o tédio, as salas viraram infernos e muitos professores foram obrigados a liberar suas turmas!
Quer saber como foi o dito 'intervalo' depois disso? O CAOS! Sem poder sair da escola, os alunos promoveram brigas e gritarias, sendo levados às pressas de volta às salas!
Na volta, ao receber A MESMA PROVA de novo, alguns riram, alguns se negaram a preencher, alguns preencheram sem nem mesmo ler...

Quer saber se os professores cumpriram suas tarefas? Infelizmente sim. Nem esse nível de desrespeito foi suficiente para nos fazer reagir, exigir um mínimo de condições de trabalho, repudiar as propostas estúpidas de trabalho que nos são feitas por 'patrões' que absolutamente não sabem o que é a realidade de nossas escolas.

Infelizmente temos um novo Governo Municipal que já se mostra capaz de criar novas e surpreendentes maneiras de sobrecarregar, desmotivar e humilhar seus professores. Este foi um dos poucos dias na minha vida profissional, a despeito de todas as dificuldades, em que lamento sinceramente ser um deles.

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