quarta-feira, abril 25, 2012

Eu converso com você igual a um rio. Ora suave, barulhinho de fonte, luzinhas, risos, brilhos, ora fundo, escuro, quase sólido. Lento, árduo, muito tenso de barragens, vai saber de onde vieram. De repente corredeira, pedras traves troncos rolando junto com a água e o meu medo que vai embora mas fica tão visível enquanto isso. É assim que eu queria permanecer, mas rio não é coisa que se planeje, e corredeira não é coisa que permaneça. Eu converso com você igual a uma água muito limpa que se espalha nas margens, espumando festiva enquanto você bebe e brinca. Ali descansam perguntas e idéias que eu esqueço de te dizer na turbulência, mas sei que você ouviu mesmo assim, porque tem sempre não sei por quê uma sede tão grande e bem-vinda. Por isso - da sede que reconheço de uns sonhos antigos - é que fluo em dúvidas e espanto, e um transbordamento de mim mesma que não controlo e não entendo. Espalhada, lânguida, irrecuperável. Exposta e visível imagem no espelho, tanto mais clara quanto mais o seu riso e os seus olhos se abrem sobre ela. E é música, o som do rio, tanto mais alta quanto mais o seu riso e os seus olhos se abrem sobre ela. Estrondo de represa demolida, fogos de ano novo assustando e atordoando como assustam e atordoam todas as coisas novas, e um medo e um gozo e um grito que eu não solto, mas já não sei onde está.

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