segunda-feira, abril 02, 2001

Diz que viver não é crime. Mas a vida toda procuramos cúmplices.
Cúmplices são estranhos múltiplos multiformes difíceis de encontrar. Encontrados, capturam-se facilmente. Porque capturam quando/enquanto são capturados. Podem estar em qualquer lugar, ingógnitos ignorados, anônimos. Estranhamente o reconhecível do cúmplice não se vê, ouve ou percebe nele. Valem em quem o encontra os sintomes de cumplicidade, grandes e claros.
Vale olhar fácil nos olhos em mão dupla.
Vale atrair-se tolo e infantil por banalidades, algumas esquecidas. Vontades estranhas de banho de chuva, estórias da infância, fruta madura, cheiro de mato, bobagens afins.
Vale esquecer de súbito toda máscara. Um ser-eu-mesmo violento e inexplicável que assusta/alivia. Momento de verdade quase feia, morna e confortável.
Vale perder exatidões, especialmente de tempo e espaço. O tempo pára e voa no mesmo instante, a distância é milímetros, braços, abismos e milhas, no mesmo lugar. Exatidões renitentes imperdidas perdem a importância e são nada agora, já que tudo é agora.
Vale o maior sintoma, e acompanha os outros todos. Um receio incômodo pontiagudo de se estar adormecido em vez de em vigília, e em vez de vida ser sonho, tudo, algum tipo de brincadeira, filme, febre ou jogo, onde vale tudo, menos acordar.

Sem comentários: