sábado, abril 28, 2001

Perdi de vista as palavras, e as temi. Já sabia que sou e tenho apenas palavras e me entrego se as entrego. Então olhei para dentro do eu-palavras que sempre fui, e tive medo de que, batendo em terra seca com tamanha força, o morrer que é se dar em palavras fosse tão raso ao solo em que se lançasse, que eu me tornasse nada, ainda mais do que antes.
Alma se escondeu, ou ao menos tentou...
Só que havia olho e ouvido de roubar palavras. Um roubar tão doce que levou Alma junto, eu-palavras em morte pequena e doce, de semente em solo fértil, úmido. Calor. Temi ainda. Neguei muito, quase tudo. Escaparam uns poucos sonhos velhos, alguns ais, eu-palavras secas e frágeis. Eu-palavras de vida latente oculta, medo e não.
Havia olho e ouvido, mãos, pele, "eu quero", "eu não sei", "eu preciso". Brotou à força Alma. A força-Alma que nem se sabia viva. Viver não é afinal o mesmo que sentir frio.

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