segunda-feira, fevereiro 26, 2001

Não, de novo!
Mais uma vez, não!

Ahh... ta bom, eu explico. Zel sou eu, sim (Sorry, Zel, a – clique aqui pra ver -Original. O plágio foi inocente! ;o) Mas é tb o personagem principal de (adivinhem!) ‘CHAT ROOM – O Livro’. Ela se chama Zélia e eu não. De resto somos parecidas em quase tudo.

Zel personagem é ainda mais mulezinha do que Zel autora. Mulezinha não é o mesmo que mulherzinha, não confundam. Mulezinha é um conceito que eu finjo ter criado (claro que sempre existiu, sem o nome), e que digo ser um conceito netsociopsicológico. O pior é que há papocabeceantes que me pedem seriamente para discorrer acerca de netsociopsicologia. Minha imaginação precisava ser mais fértil e mais rápida!...rs

Mulezinha é aquilo que aprendemos a ser desde meninas. Uma mulher chamada Colette Dowling, se não me engano, chamou parte desse sentimento de 'Complexo de Cinderela'. Tudo bem, o meu é de Rapunzel, mas é similar. A mulezinha é frágil, insegura, susceptível a críticas, intimamente solitária, sonhadora, crédula por opção, romântica, doce... vou fazer uma pausa para q você possa limpar a calda que escorre no seu monitor...

Mas a mulezinha é extremamente arraigada e viçosa. Quase impossível matá-la dentro da sua hospedeira. Venho tentando fazê-lo há tempos, mas ela ressuscita periodicamente.

Esclarecidas as dúvidas do dia, segue o trecho:

“Havia uma fila enorme no caixa. Filas me irritavam terrivelmente, mas eu já havia decretado que, levasse o tempo que levasse, eu não sairia dali. Atrás de mim duas senhoras, aparentemente desconhecidas entre si, conversavam sem se darem conta (embora eu arriscasse um olhar de vez em quando) que eu as ouvia sem querer, mas atentamente.

- Ah, mas que falta de respeito uma fila desse tamanho! – Era uma mulher pequena, idosa, mas não o suficiente para a fila especial, ou talvez fosse daquelas que rejeitam essas filas por não se ‘sentirem’ idosas. Vestindo uma roupa simples e elegante, cabelos bem penteados, maquiagem leve, bijuterias. Fiquei imaginando por que uma senhora daquela idade se prepararia tanto para ir ao supermercado.
- Eles pensam que não temos mais o que fazer, imagine! – A outra era mais alta e magra, e mais jovem também. Mas parecia bem à vontade naquela conversa, na vagarosidade da fila, ao contrário do que dizia.
- Antigamente não havia toda essa modernidade, esse monte de computadores, e a gente não precisava passar por isso... – e pôs-se a dissertar sobre as vantagens de se viver no passado, enquanto a outra concordava. Eu ria daquilo por dentro, e de como somos gratuitamente resistentes ao novo.

Passei os momentos restantes conferindo os conceitos anti-modernidade daquela senhora, e os meus próprios, que caminhavam no sentido oposto sem colidirem exatamente. Eu sentia uma espécie de indulgência íntima, como uma sensação de admiração silenciosa e cúmplice diante do novo, do moderno, da tecnologia, e por que não, do virtual. Imaginei o tempo não gasto em bibliotecas e filas de banco, ou mesmo no trânsito, graças à Internet. Imaginei as pessoas fazendo amigos nas filas de supermercado, praças, bares e salas de chat. Lembrei de Ângelo e de suas idiossincrasias, marcas registradas daquela personalidade forte e única, mas que não encontravam eco na minha alma de pressas e urgências e palavras, que preferia o presente que o passado.
Ainda tive tempo de sorrir mais uma vez ao sair do supermercado, olhar para trás e ver aquela senhora pequena, quase doce, pagar suas compras com um cartão magnético de débito. Santa modernidade!
Cheguei em casa esbaforida – eu nunca conseguia andar devagar, nem mesmo quando carregava peso – e subi com um ar de quem acha água no deserto. Definitivamente eu gostava de estar em casa.
Enquanto tentava enfiar a chave no buraco da fechadura, utilizando técnicas recém-inventadas de equilibrismo com as sacolas, esbarrei o pé em um objeto rígido no chão. Estranhei aquilo, larguei tudo no chão e fui ver o que era. Não acreditei.
“Não pode ser normal uma coisa dessas”, falei sozinha, rindo, enquanto umas crianças que passavam no corredor cochichavam e olhavam.
Era um aquário do tamanho de uma bola de basquete, com pedrinhas, plantas e dois peixinhos. Um azul cintilante e um dourado com uma cauda enorme, como um véu. Colado com fita adesiva pelo lado de fora estava um bilhetinho escrito a mão:

"Zélia de carne e osso e alma,
Cuide bem de Slapi e Ima. Eles me disseram com os olhos que gostariam de fazer companhia REAL pra você. Mas acho mesmo é que querem que você lhes faça companhia (não conte isso a eles).
Ah, e esqueça as palavras, elas não são importantes, ok?
Abraços
César.”




o0o


Sem comentários: