sexta-feira, junho 28, 2002

Olhava através da janela... e do ar, e dos pássaros, e árvores, e nuvens, e via. Via nítido, embora não compreendesse. A sensação era de iminência. Riu. Aquilo era ridículo. Iminência não era sensação que se tivesse. Mas como chamar aquele suspiro, aquela vigília? Que nome dar a isso que se parece com o que sente o cais quando o barco se aproxima?
Ouvira falar uma vez de um barco não sei onde que chegou com tanta força que quebrou o cais, pensou então que ser cais assim passivo e imóvel era muito doído. Quando se é cais tanto o partir quanto o chegar do outro são intocáveis. Não se pede e não se nega a chegada. Não se apressa e não se adia a partida. Então é dor o tempo todo, dores diversas. A de chegar é medo, a de não chegar é solidão. A de não partir é culpa, a de partir é saudade. De tanto não pedir e não negar nada acabou aceitando as dores todas.
Desejara uma vez ser barco em vez de cais. Desejara na sombra e no silêncio da maré baixa. Seria o mais belo e preciso dos barcos, que chega e vai embora somente no tempo certo. Um barco como nenhum outro. Temeu e preferiu esquecer. Sentiu alívio pela sombra, pelo silêncio da maré baixa, e olhou de novo através da janela, do ar, dos pássaros...

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