segunda-feira, março 19, 2001

Era uma vez um pássaro que não voava. Não voava porque havia aprendido desde cedo que era incapaz de voar. Ele achava que as próprias asas eram tão inúteis... Achava que a própria vida era tão injusta... E simplesmente não voava.
Era uma vez um pássaro que não conhecia o céu. Ele via o céu, via os outros pássaros no céu, mas só via... e tudo de longe. E era tamanha a sua certeza de que jamais voaria, que não havia no mundo um pássaro sequer que pudesse ensiná-lo a voar.
Mas alma de pássaro voa longe... voa alto! Não tem medo, nem complexos; não tem dor, nem limites! Então o pássaro chorava, porque alma de pássaro, quando voa, não carrega o corpo, e volta logo, se esconde e se lamenta, e por isso ele sentia muita dor.
Até que um dia ele conheceu um anjo...
O anjo, por ser anjo, fez com que o pássaro olhasse as próprias asas e as amasse. Fez com que as abrisse e as movesse... e o pássaro acreditou que podia...
Só que anjo voa no céu dos anjos, e pássaro no céu dos pássaros. Apesar de confiar no anjo, o pássaro sabia que, se fosse até o céu dos anjos, não seria mais um pássaro verdadeiro. E não foi, e temeu. e sofreu o medo de nunca mais voar!
O anjo, por ser anjo, disse ao pássaro: "Não tenha medo: Sou eu que estou aqui com você!", e o levou ao céu dos pássaros, num vôo simples e pobre de sensações para um anjo, mas alucinante e inesquecível para aquele pássaro que não voava.
O vôo foi curto, rápido demais para o tamanho e a intensidade do que o pássaro sentia. Logo, logo, o anjo voltou ao céu dos anjos, mas o pássaro nunca mais foi o mesmo. Deste dia em diante, ele nunca mais deixou de voar, mas um vôo diferente, ousado, belo e peculiar. Ele então ficou conhecido entre todos os pássaros como "O pássaro com vôo de anjo".

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