terça-feira, março 13, 2001

Olhei Alma por um instante, será que também chorava?
Aflição de Alma era coisa sabida e certa e antiga. Era de sempre aquela inquietude, um grande apertado dentro, doído, explosão iminente e forte, que não vinha. Aquela intensidade de um algo que podia ser tudo ou nada, mas não era lágrima. Não lágrima visível. Havia muito que faltava a Alma, e eu sabia. Mas via pouco, ouvia pouco, e conhecia pouco. Éramos de rochas, eu e Alma. De vento grande , intenso e furioso, e chão duro. E o chão era raro, tanto que duvidávamos se existia.
E eu esperando, sempre. A cada viagem, cada visita, um muito de se ver, se repetir, como quem decora versos. Um muito grande de mim e de Alma, que era o mesmo. Mas Alma chorando era coisa nunca vista.
Era grito, espasmo, imobilidade fervente, barulho surdo, grade firme, revolta. Era Alma. A mesma. Serena de olhos retos luminosos, e verdades, e escuros tão expostos como o dia. Agora um quieto duro, aceso. Alma silêncio e fúria.
Mas o quase era maior que o sempre. O agora maior que o tudo. Silêncio e fúria em cores, peso de horas. De vidas. Dívidas de ir e de ser. Faltavam-nos sins.
Em silêncio e fúria era tudo não. E horas muitas e ar pouco, e palavras de se buscar com mãos e boca. E sedes, e dores. E limites sem lugar.. eram não-saberes antigos, esquecidos, emergindo do fundo de dentro, medonhos, velhos grandes imortais.
Misto de janela e espelho dentro, fundo e escuro, o lago. Alma pálida rede-emaranhada, cansaço, morte pequenina quase bela. Sorri buscando, grito invisível. Indizível. Não lhe via os olhos. Sabia-lhe olhos, gritos e lágrimas, sem ver. Silêncio e fúria.
- Desce! – Explodi em mil nãos, vagos inúteis. Era preciso, fui.
Frio escuro de novo. Silêncio macio de água parada, descendo, descendo, nem sol nem ar, descendo todos os nãos até o último. Alma no fundo, a mesma. Recente e viva. Presa quase triste. Corto-lhe redes com os olhos. Muitas sempre ainda agora.

1 comentário:

Anónimo disse...

a maneira que voce escreve é muito parecida com a minha