segunda-feira, março 12, 2001

“A gente só tá pronto quando morre!”
A frase foi dita por um menino de seus quinze anos, em meio a uma aula que tinha tudo para ser teórica. Meninos de quinze anos são surpreendentes às vezes, e Alice sabia disso. Já não se surpreendia tanto.
Era uma aula de ciências. Ao longo de seus mais de dez anos em sala de aula, Alice havia aprendido que é possível estudar ciências em qualquer tema, e que por isso em uma aula de ciências ‘pode tudo’. Tudo é pertinente porque tudo é a vida, e é a vida mesmo o que se quer estudar. Falavam sobre reprodução.
O objetivo era comentar a fecundação, a evolução do bebê, a gravidez, o parto... Alice visualizava suas próprias gestações, enquanto exibia àqueles trinta pares de olhos arregalados os vidrinhos de formol contendo fetos. Ela não podia evitar o pensamento que zumbia em sua mente, o de que, caso aqueles fetos tivessem sobrevivido, seriam hoje mais velhos do que os seus próprios filhos.
Surgiu o questionamento a respeito de quando é que passa a existir um ser humano. Falaram em transformações, e no fato de que elas não cessam, desde o aconchego do útero até a maturidade, à velhice. Apesar do tempo e da experiência, nada pôde impedir que a própria Alice aprendesse muito, e de novo, com aqueles meninos de quinze anos. A gente só tá pronto quando morre.

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