segunda-feira, junho 18, 2001

Peguei um vírus. :o(
E não foi um vírus de computador, não. Não teve McAfee, Norton, não teve site-em-inglês-onde-a-gente-só-entende-a-palavra-download que me valesse. Não teve verificação, varredura, lavadura ou enxaguadura que o detectasse na chegada, e chegou. Era vírus-vírus, mesmo, no sentido pré-histórico da palavra. Aquele que a gente entende com o corpo inteiro.
Veio e aboletou-se no recôndito enxovalhado da minha garganta, silencioso – o vírus. Aproveitou o escurinho e a maciez do meu epitélio cilíndrico ciliado e ali prosperou. Cresceu, multiplicou. As valentes cordas – pregas que não se assumem – vocais, mais usadas do que sapato de carteiro, mas sem direito de reposição, já haviam dado muitas vezes sinal de exaustão, mas jamais de desistência. Pois bem, fiquei muda.
Quando o sujeito fica mudo ele tem mais tempo pra pensar. Se for professor, ou algo assim verborrágico, tem ainda mais, porque fica sem serventia e vai pra casa. Perde-se um tempão falando, há caminhões de abobrinhas verdinhas e bem-nutridas jorrando em direção aos ouvidos avisados e desavisados. Há abobrinhas pensadas, também, mas essas não são tão nutridas, porque é o tráfego que as alimenta. Permaneci restrita a essas, então, ao menos até ouvir o “thrrrrrrrrrrrrrrrrrrróinhóinhóinh” do modem, e adentrar este mundo onde se pode conversar sem voz. Paliativo, que a gente gosta muito mais é de abobrinhar à moda antiga.
Meu hóspede parecia muito à vontade. Roubou a voz, devolveu metade dela, trouxe a tosse, prendeu o ar, usou o diafragma como cama elástica, a epiglote como cavalinho, os sinos da face como piscina... Aflição do corpo pra quem só andava acostumada às da Alma.
Resmunguei, reclamei. Intuí monstros debaixo da cama. Resgatei pesadelos da infância. Chorei, chorei. Magoei um amigo querido (toctoc... :oP). Errei na automedicação e melhorei. Corrigi o erro indo ao médico e piorei. Pedi à filha que fosse minha mãe. Usei a palavra ‘mãe’ 9584850595459 vezes em três páginas de texto. Fiquei dopada de remédio. Fiquei acordada de raiva. Fiquei pequena, pequena, quase microscópica. Aproveitei o tamanho pra ir bater um papo com o meu hóspede, mas ele não me recebeu. Resmunguei, reclamei.
Imaginei-me uma caixa de geladeira. Assim enorme, grandona, larga, imponente. Auto-suficiente. Com medo de ser derrubada por um golpe de ar. Uma caixa de geladeira duplex com o desenho bem grande de uma taça quebrada, sublinhada por letras grossas e pretas: CUIDADO,FRÁGIL.

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