quinta-feira, agosto 02, 2001

Nova - II
Será então uma figura atípica fazendo anotações frenéticas em pleno shopping, em plena multidão, em plena tarde de pipoca e cinema. Será alienígena no mundo de fora, cidadã de dentro, de verdades tantas que será impossível crer em qualquer coisa.
Impossível crer em qualquer coisa.
Em verdades tantas que será impossível crer em qualquer coisa, restará enlouquecer. E terá sido antes, bem antes de conhecer o mundo, a loucura. Por isso é que não há de entender o tempo, os medos humanos, as mortes, sorrisos, lágrimas humanas. Os saberes sem se saber. Os mostrares sem se mostrar. O tempo. As crianças que crescem e aprendem a sofrer. As que sofrem mesmo sem aprender. As coisas que desaprendemos a rejeitar. As lágrimas, os escuros, o negar sonhos. Então já se estarão acalmando devagar as batidas do coração, ainda loucas. A turgidez de idéias amansando. Há de arrefecer então em sua vontade de gritar, porque estará aos gritos. Em silêncio.
Uma criança se aproximará, fará uma pergunta. Duas. Responderá automaticamente, desejará ser invisível. ‘Por favor não fujam’, gritará para dentro. ‘Não me abandonem outra vez, não se escondam’. Silêncio e turbulência, estarão lá ainda. Há de olhar o próprio deserto, ainda mais vasto do que pensava, e saberá ser do deserto o choro, os gritos nas noites, nos livros lidos. Um choro que roga ‘Gritem por mim!’.
(continua)

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