quinta-feira, agosto 30, 2001

Que coisa terrível, e deliciosa, essa de pensar sobre o amor..
Lembrando da paixão (tesão) da língua. É intenso, tá vendo? O humano é intenso, ávido, sôfrego. Os sentimentos humanos, então... é claro que não é o ideal. Ideais são as borboletinhas amarelas que esvoaçam sobre o mato aqui no meu quintal. Levíssimas, inexigentes, suaves, quase sonhos. Mas pousam quando não vemos, e morrem, também.
Ser leve então, eu penso e sinto, é escolha. É exercício e esforço de deixar o outro voar quando o queremos nosso (e é nosso também o vôo, muitas vezes, que lindo). Porque queremos ser barco errante - e como erramos! - e queremos o outro, confortavelmente, porto. Sim, porque o pouso inevitável da borboletinha amarela é sobre. E há que existir um 'sobre o quê'. Mas há que se ser leve por amor, também, que conhecemos os males do se deixar pesar em amores sobre alguém. Então é, repito, exercício e esforço. Mas vale a pena.
Quando um texto me move muito, é quase físico um sentimento assim: as palavras dançando em mim como peixes na água. Totalmente minhas, mas ainda assim difíceis de capturar. É como se eu tivesse - e tenho - muito mais a dizer do que digo, não por vontade. É uma angústia que vai do doce ao ácido corrosivo. Hoje é doce.
É assim diverso o sabor da tal angústia, penso, porque é diversa a solidão também, e ela é meio que reguladora das emoções todas. Então o que é compartilhado é sempre doce, até a dor ou a dúvida. O sentimento/idéia/pensamento compartilhado brilha, e seduz, e ainda que angústia é mais e mais desejado...
Parecem irmãs a solidão e a liberdade. Gêmeas, talvez. Talvez uma só. E não se deseja a solidão. Na verdade o próprio desejar a liberdade tem suas nuances de escravidão, se olharmos direitinho.
Ah, o que dizer do amor que ainda não tenha sido dito? Esse que é leve e livre e lindo, mas tão pouco consistente quanto a água que se beba para matar a fome, ou sobre a qual se tente caminhar. Esse que é refúgio, abrigo, mas envolvendo agrilhoa, alimentando sufoca. Assistia dia desses um vídeo sobre o nascimento dos animais, e era tão estranho o modo como a maioria deles não se desfaz em amores pela cria, a não ser talvez através daqueles cuidados indispensáveis à sua sobrevivência no começo da vida. Depois, é adeus, você pode sem mim.
Nem sei se digo o que acho, ou se acho. Mas disse o que veio à mente, deve ser o que sinto. E, creia, eu sinto muito melhor do que sei.

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