terça-feira, agosto 07, 2001

Nova - III
“Ah, pessoas! Gente terráquea que se entende e se basta! Gritem por mim, que nada sei, nada entendo! Digam que a chuva é chuva e nada além disso! Gente que anda e fala e vai ao cinema e não escreve no shopping, grite por mim, por piedade! Digam que é só isso, e me aquieto. Digam que ser é essa coisa de metabolizar e respirar e comer e excretar e morrer, e eu acredito e me acalmo. Mas digam! Olhem!!!”
Há de passar despercebida, junto com todos os seus gritos surdos. Há de gritar violentamente pelos olhos, em desespero. Despejar-se-á em jorros sobre o pequeno caderno novo, os dedos doendo, um choro dentro tão intenso que a Alma canse e engasgue. Porque sabe, e não sabe dizer. E teme não dizer, jamais. “A vida é tanto e tão fundo que acho injusto que eu saiba disso, pequena assim.”.
Então acalmará. Um pouco, ao menos, e finalmente. Há de desejar deitar e dormir, mas não fica bem. Chorar alto, para fora, mas não fica bem. Abraçar um desconhecido, será permitido? Certamente não... Uma senhora desconhecida, talvez, sozinha na mesa em frente. Esperando tranqüila. Abraça-la? Não fica bem. Saberá uma serenidade nova, nem triste, nem alegre. Um sossego. Um medo de interromper o jorro de palavras e perde-las de novo. Há de ser novo, tudo, agora. Poderá ir, voltar ao cinema, tomar um café. Terá o seu algo novo, de novo, e ninguém saberá. Mesmo que lhes conte.


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