quarta-feira, agosto 01, 2001

Nova - I
De repente há de ficar tudo claro. Claríssimo. Um ofuscamento de porquês descobertos e motivos coloridos, confusos, belíssimos e assustadores. Talvez num domingo. Sim, um domingo mágico de banalidades, uma tarde no shopping e um tumulto de idéias mudas e revoltas mal escondidas debaixo da cara de ‘boa tarde’. Ela se lembrará do caderno vermelho e de ele ter sido tão caro, tão caro. Não saberá, é claro, quando o terá adquirido, nem por que, nem se por querer, mas saberá claro que o há de pagar toda a vida. Um nó na garganta, breve virão as lágrimas. Há de precisar verte-las em letras, há de escrever. Mas onde?
Haverá... uma loja. Sim, entrará nela e olhará os cadernos coloridos enfileirados, e parecerão todos o mesmo. Há de escolher o menor de todos, o insignificante, de desenhinhos coloridos na capa que jamais se lembrará quais são, e de igual forma temerá não lembrar o que dizer se demorar mais um minuto. Coração saltando, terão voltado as palavras. De assalto, de tocaia, desleais, inescrupulosas. Soberanas. Belas, lindas, tão amadas. Suas, saberá, desde sempre. Ela duvida, às vezes, duvida com a mente. Mas Alma não conhece dúvida. Conhece sins e nãos. Alma esse amontoado de si mesma que carrega dentro e que nem sempre vê. É, às vezes é tão dentro e tão forte que não pode ser vista. Às vezes é sabido o quanto é Alma de doer e fazer doer, e fica escondida.
Há de procurar ávida o melhor lugar. Verá uma mesinha do shopping, e agora, sobre ela, o caderno novo de capa desconhecida. E é assim que se saberá, também. De capa desconhecida, o não sabido por fora e o mundo na garganta, apertando. Ah, como serão lindas e enormes as suas dores. Como serão visíveis. O de dentro de doer e fazer doer, há de saber, não fugir, não se trancar agora.
(continua)


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