quarta-feira, outubro 22, 2003

Acho que existe mais de uma liberdade. Ora, pra mim liberdade é ir onde quiser. Mesmo assim, mais de uma liberdade, pelo menos uma de dentro e uma de fora. Mas livre não é quem pode sair? Não somente, para entrar precisa liberdade, e não ser livre dentro é não ser livre. Tipo na casa da gente? Tipo no de dentro da gente. Ser livre para ir a todo lugar dentro de mim. Ah, dentro de mim é tudo uma coisa só, acho que não tenho lugares. De onde vêm os seus sonhos? Ué, igual todo mundo, diz que tem o inconsciente, né? Taí, lugar. Ora, lugar? Pois saiba que ‘onde’ é advérbio de lugar, então se é ‘onde’ é lugar. Ih, aqui dentro deve ter cada lugar... E você os visita todos? Para quê? Não sei, visita? Não, que bobagem. Deve ser bom se visitar todo. Acho maluquice, sabe o médico e o monstro? Sei, a coisa do lado mau. É, to fora. Do lado mau? Claro, to fora. Todo mundo ta, ele é que fica lá dentro. Cruz credo, visitar pra quê, então? Pra conhecer. Só quero conhecer coisa boa. É questão de tempo, ele sempre acaba saindo. E sai como? Deve ser pelos olhos, que nem nos filmes de monstro. Sei não, acho que olho só serve de entrada. Então pelas mãos. Palavra? Pode ser. Imagem? Talvez. Som? Tudo, qualquer coisa. Boa? Pode ser ruim também, tem que escolher. A gente escolhe sempre? Não, sempre não, só quando tem liberdade.

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