terça-feira, outubro 21, 2003

Voltar a qualquer coisa produz reencontros de todo tipo (que bom!). Esse foi fácil, porque textos são sempre mais fáceis que pessoas. A folha estava bem aqui, escrita a lápis, ao lado do computador, na pasta de contas a pagar (Lugar ideal, esse? Também acho.). Esperou pacientemente tantos meses que nem me lembro. Sem data, sem contexto, quase sem identidade:
“Havia uma tristeza nova agora. Reluzente e fria, feito cristais de gelo. Tristeza legítima, cheia de verdades que escorriam vívidas, encharcantes. Verdade e tristeza eram a mesma coisa, finalmente. Havia agora algo de fato que contrastasse com o quente das lágrimas no rosto, que também escorriam vívidas, encharcantes. Tristeza quase construída, já que estava – sabia, sabia sim – sobre um alicerce débil de decepção porosa. Mas era, a tristeza. E a amava.
Podia olha-la de todos os ângulos impossíveis. É que os possíveis não precisam ser olhados, eram conhecidos e sabidos como se sempre tivessem estado ali. Talvez toda a tristeza do mundo fosse a mesma, um monstro-desespero enorme e invisível que ferisse de diversas formas com cada pedaço do corpo. Ou talvez fosse um prato de sopa quente, e queimasse diferente as quem mais ou menos decidisse se aprofundar nele.
Podia olha-la de todos os ângulos impossíveis. Caminhou então em torno de sua tristeza-prato-abandono, e sentia-se repleta dele, embora leve. Vapor. De cima contemplou o alaranjado de sua casa. E chorava-chorava, condensava, caía. E subia lenta, leve, vapor-redemoinho.
Com honestidade – é claro que não havia honestidade, que essa é coisa que não entra na gente, só sai – poderia admitir que não era importante. O motivo não era importante, talvez já o tivesse esquecido. Importante era só o”

Que coisa... “só o” quê? Nunca vou saber, não lembro nada, nada sobre esse texto. Ao menos sei que essa tristeza passou, já que não me lembro mais qual foi o motivo, nem quando. Eu ia terminar o texto para postar, mas preferi deixar o vazio. Talvez alguém que o leia sugira um final melhor do que o que eu faria. ;-)

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