sexta-feira, outubro 24, 2003

Outro texto esquecido... este do caderno vermelho (é, eu reli todo o caderno vermelho, sim). Engraçado um texto esquecido no caderno vermelho, porque nele é que eu escrevia os textos que não queria esquecer, ou aqueles que precisavam permanecer lembrados. O texto me lembra Dhea, a minha personagem em eterna gestação, nunca nascida. Ainda. Só lembra, porque há detalhes muito diferentes das características dela... será que esse afluxo repentino de coragem, que me fez voltar a esta página, também me trará Dhea de volta? Não percam os próximos capítulos. ;-)
Era como uma viagem, ou como uma chama que acende ou apaga. Um sair ou entrar em si, e o mundo ficava tão pequeno ou tão grande que nem tinha importância. Havia estado dentro do espelho, uma vez. Uma vitrine tão bonita e colorida, de uns luxos estranhos, mas era só o espelho o que via, infinito. A viagem do olhar não conhece obstáculos, então vai-se onde se quer, quer exista, quer não. E ia. E eram sempre lugares muito bem escolhidos, de clima ameno e cheiro bom, luzes suaves e silêncio, e nenhuma dor. Poderia passar dias em cada um desses lugares, mas raramente conseguia fazer com que a viagem durasse muito tempo. Havia a vida real, pessoas reais, sensações reais. O frio da rua, o abandono, a fome, o não.
Não parecia ter mais do que dez, doze anos. Tinha mais, não sabia ao certo quantos. Não sabia ao certo muitas coisas, talvez nada. Mas isso era tão pequeno ou tão grande que nem tinha importância.

Porque será que eu sempre termino os textos do mesmo jeito que eles começaram? Músicas são assim quase sempre, terminam no mesmo acorde... será que é isso? Ou será essa sensação de que o final do texto não chega nunca? É... não chega nunca. Que bom.

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