sexta-feira, janeiro 19, 2001

Juninho às vezes me parecia o mais esperto dos moleques. Onze anos, sorridente, simpático, extremamente repleto de palavras e caras e bocas de adulto, mas numa ‘adulteza’ tão doce que parecia o meu próprio lado criança.
Debruçou em minha janela um dia, interrompendo-me no sacrossanto dever/direito da escrita, ao qual adquiri o delicioso hábito de me dedicar todos os finais de tarde. Amigo de minha filha, parecia ter igual prazer na conversa dos adultos (ao menos desta ‘adulta’ aqui) quanto nas brincadeiras de criança. Já havia ficado meu amigo também.
E com que prazer interrompi meu trabalho naquele dia... Juninho me instruía nas relações travadas dentro do grupinho de pequenos que costumava brincar em frente ao meu portão. Contou-me da fúria das mães em defesa das crias, rebatendo a minha argumentação de que ‘Toda mãe é furiosa’ com um devastador ‘Mas você não. Você é muito legal!’. Eu tinha mesmo que gostar daquele moleque...
E nesse mesmo dia dissertávamos sobre os conflitos de criança, e sobre a choradeira comum nesses momentos... Ele deixa escapar a pérola:
-Engraçado, Lílian. Eu nunca vi um menino, mesmo de três anos, chorar sem motivo. Mas toda menina, até ‘grande’, vive chorando! Não entendo isso.
Quando algo me põe pra pensar, como que a dissecar uma dúvida em todas as suas possibilidades de resposta, ou de geração de novas dúvidas, digo que esse algo me prendeu os olhos. Pois bem, aquele esboço de homem típico me havia prendido os olhos. Quem disse que um homem precisa ser adulto para não entender as mulheres?
Narrei para mim mesma, em forma de texto escrito, as divagações de Juninho, mas não consegui pensar muito sobre elas. Guardei-as e estive certa de que um dia as dissecaria. Cá estou.
E procuro discernir em mim o humano do feminino.

Sem comentários: