quarta-feira, outubro 17, 2001

“Preciso de um tempo”, pensava, sem dar à palavra ‘tempo’ sentido inteligível algum. Um silêncio, talvez. É que o barulho de dentro era tanto – pensando bem, não maior do que sempre fora, alma-tempestade – que cansava. E sabia o necessário do silêncio como de alguma forma também sabia ser o mar capaz de se cansar das ondas. As mesmas ondas de sempre, de novo, lua após lua. Precisava da calmaria.
Era possível que tempo fosse somente tempo, não tivesse enfim sentido algum. Mesmo assim era necessário porque o sem-sentido também era necessário, e até então insuficiente. Significar também cansava.
Talvez então tempo fosse o mesmo que vazio, que o cheio de dentro era tanto – pensando bem, não maior do que sempre fora, alma-matriz que não entende vácuos – que pesava. E sabia o necessário do vazio como de alguma forma também sabia ser o chão capaz de se cansar dos frutos. Os mesmos frutos de sempre, de novo, chuva após chuva. Precisava de seca.
O tempo era de tão etéreo quase inexistente, e fugia, fugia... Parco, pobre, sempre. Não havia tempo no sempre. Não havia tempo no nunca. E precisar de tempo angustiava porque não se o podia reter. Só se aprisionava o tempo na memória, por isso era sempre mais confortável o passado. O hoje doía fértil e urgente e era difícil olhar o dia seguinte sem espanto. Espanto do inevitável.
“Preciso de um tempo”, e sabia não haver nada mais implacável – nada mais fiel, também. Cria no tempo ainda que não existisse, já que só a ele era permitido ser tão inexistente quanto infalível. Talvez por isso o desejasse tanto, mesmo sabendo que jamais o possuiria.

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