domingo, maio 05, 2002

Trezentosequarentaeseis... trezentosequarentaesete... trezentosequarentaeoito... que horas são?... trezentosecinquenta... Se ao menos passar das quatro, cinco e meia levanto mesmo... trezentosecinquentaetrês... Raio de torneira, raio de noite que não acaba...
Esperar é feito guardar um segredo. Olha-se para aquelas coisinhas débeis dentro da alma, meio disformes e tão numerosas, que se fazem chamar sonhos, e é quase engraçado... Cada um deles é tanto, e vive tanto. Pedaços de eternidade encravados numa vida onde não poderiam caber. Como algo tão delicado pode ter poder tão grande?
E o mundo nem aí, gira e pronto. A vida segue... trezentosecinquentaaenove... Tem jeito não, melhor desistir que enlouquecer, mais um pouquinho viraria caso de hospício.
Mesmo a palavra esperança tem um quê de aflição. Sim, porque é esperança no invisível e muito, muito imaginado. Naquilo que não se tem. Parece então que só se espera o impossível. Depois da esperança a realidade vem sempre faltando um pedaço para ser o sonho ( talvez ela - a esperança - vire verdade incompleta pra que outra esperança possa vir a existir - deve ser assim que elas se reproduzem). E amanhã é afinal o melhor de todos os dias. Esse, que nunca chega.
Quatro em ponto. Sorria desses acasos que faziam o tal do acaso parecer ter mais noção de hora e lugar que a gente mesmo. Sorria triste porque ficava triste na insônia, sempre. Rendia pouco, errava, odiava errar quase tanto quanto odiava esperar. .
Esperar é parecido com olhar através de paredes de chumbo. Enxergar por querer, o querer. Criar do invisível, levar imagens e histórias na bagagem, que na falta de vida viva o sonho. O agora então vai ficando assim embaçado, e quase some, asfixiado pela espera.

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