quarta-feira, maio 29, 2002

Eu queria pintar um quadro agora. Só assim eu ia poder gritar. Grito de palavra é tão difícil, e quase nunca tem ninguém pra ouvir. Queria pintar um quadro assim todo bagunçado. Abstrato, né? É, desses que pulam em cima de quem olha. Será que alguém vai olhar? Todo artista tenta botar na obra o seu grito, mas acho que ele não é ouvido, não. Porque quando você olha, ouve, lê, põe a mão numa obra de arte, na verdade o que vem é o seu grito, mesmo. Você escuta o que o artista disse do que você mesmo queria ter dito, entende? Eu queria fazer uma música hoje. Não. Queria fazer uma sinfonia. Ela seria bruta, forte, muito intensa. Por falar nisso, como pode você, você aí, ser tão intenso por dentro, intenso tão dentro, que não percebe o outro aí do lado a não ser no que nele homenageia você? Eu queria escrever agora, mas não isso aqui. Queria escrever o que tenho em algum lugar aqui dentro, mas que nunca até hoje conseguiu virar palavra. Eu queria virar palavra. Ou talvez som, cor. Um dia eu viro.

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